"A
política de juros altos é tanto mais eficaz
quanto maior o dano que puder causar."
(Fernando Cardim de Carvalho)
Banco
Central, Copom, Selic. Ainda que você não queira,
estes atores do cenário econômico nacional
têm visitado seu jornal, sua TV e sua paciência
ao longo dos últimos meses.
Longe da pretensão de querer analisar o significado
de cada um destes agentes, e de tantos outros protagonistas
igualmente relevantes, pretendo ao final deste artigo apenas
apontar como tudo isso afeta diretamente você e seu
bolso.
Reflexos sobre o País
O Brasil apresenta hoje a mais elevada taxa de juros reais
do mundo. Juro real é uma medida da taxa de juros
básica da Economia, em nosso país representada
pela taxa Selic, descontada a expectativa de inflação.
Nosso Banco Central, que paradoxalmente a tudo o que tem
feito clama por independência e autonomia, entende
que a inflação é um monstro adormecido,
de sono leve, que habita nosso cotidiano sob o risco iminente
de despertar a qualquer momento. Parece crer piamente que
crescimento econômico, no Brasil, traz inflação
em seu bojo. Por isso, sob a égide das questionáveis
“metas inflacionárias”, impõe
taxas de juros elevadas objetivando conter a demanda agregada,
ou seja, fazer com que os consumidores deixem de comprar.
Assim, qual será o comerciante que elevará
seus preços, gerando inflação, se já
nos patamares atuais ninguém compra?
Juros altos, demanda retraída, produção
contida. Desemprego como efeito colateral. Onde buscar mesmo
aqueles 10 milhões de empregos da campanha eleitoral?
Mas o problema não cessa aí. Mais da metade
da dívida pública do governo federal é
indexada exatamente à taxa Selic. Taxa alta, gastos
de mais com juros, investimentos de menos em escolas, hospitais,
habitação, segurança e infra-estrutura.
é um Estado predestinado a gerar superávits
primários e nada mais.
Como se não bastasse, juros reais elevados atraem
investidores. Não aqueles dispostos a construir fábricas
e gerar empregos, mas aqueles interessados em realizar ganhos
rápidos nos mercados de capitais. São os famigerados
especuladores que trazem consigo um capital tão volátil
quanto éter, capaz de ir embora com a mesma velocidade
com que entra num mero clique via Internet. Afetam nossa
taxa de câmbio, através de seus fluxos, impactando
nossa balança comercial e, por conseguinte, nosso
balanço de pagamentos. é por isso que nossas
reservas internacionais são tão baixas e nossa
credibilidade tão insólita.
A praga dos juros altos mata o país!
Reflexos sobre as Empresas
As empresas de pequeno e médio porte, aquelas que
efetivamente geram empregos, sabem tão pouco sobre
a taxa Selic quanto você. Pagam juros que variam entre
30% e 70% ao ano, nos Bancos, chegando a mais de 180% ao
ano junto às Factorings. Além disso, arcam
com uma das cargas tributárias mais distorcidas do
mundo capitalista, pagando impostos antecipados sobre seu
faturamento.
E por qual motivo o dinheiro lhes custa tão caro
se a tal Selic, já tão elevada, está
fixada em 16,50% ao ano? Porque existe uma praga maior chamada
“spread bancário”, ou seja, o prêmio
cobrado pelo credor para remunerar seus custos, pagar impostos
e ter lucro. O próprio relatório do Banco
Central do Brasil (www.bcb.gov.br) demonstra que a composição
do spread bancário contempla ganhos da ordem de 40%
entre despesas administrativas e lucro do agente financeiro.
Um negócio e tanto, capaz de deixar até o
narcotráfico entusiasmado...
É por isso que os Bancos têm apresentado lucros
tão expressivos em seus balanços. é
por isso que os empresários são insanos e
deveriam ser internados um a um. Trabalham para alimentar
o sistema financeiro e a ganância arrecadatória
do Estado. é a transferência de riqueza de
quem produz para quem apenas gerencia números. Isto
explica, em parte, a vergonhosa distribuição
de renda em nosso país.
A praga dos juros altos mata as empresas!
Reflexos
sobre as Pessoas
As
estatísticas demonstram claramente a queda do salário
real. Isto significa que seu salário hoje, descontada
a inflação, tem menor poder de compra do que
há anos atrás. Grande novidade! Você
percebe – e sente – isso em seu dia-a-dia. Tomando
café, indo ao supermercado, usando ônibus,
pagando pedágio.
Como
você ganha pouco, recorre a uma coisa chamada crédito
que, no Brasil, atende às pessoas físicas
pelos nomes de cheque especial e cartão de crédito.
Por
compulsão ou necessidade, você utiliza o crédito
que lhe é disponibilizado. Paga taxas de juros de
até 429% ao ano, sem perceber, até ficar inadimplente.
Então, surgem outras figuras onipotentes. Os serviços
de “proteção ao crédito”
como SPC e Serasa que, com seu poder discricionário,
negativam seu nome em todo o país, tornando você
persona non grata. Tiram-lhe o crédito, a moral e
a tranqüilidade.
Desempregado,
sem crédito, sem dinheiro e com o nome comprometido,
você um dia sai em busca de um emprego digno. E dignamente
recebe um não!
A
praga dos juros altos mata você!
Tom
Coelho
www.tomcoelho.com.br
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