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Carlão Carioca vai jantar
com a sogra |
Carlão,
quem diria, finalmente encontrou a mulher dos seus sonhos
e vai se casar. A notícia – ouvida por mim
em primeira mão pelo telefone – surpreendeu-me
tanto que quase expressei o que estava pensando: como a
deusa tinha conseguido fisga-lo?
Atropelando as palavras, comendo silabas, contou-me do jantar
que teve com a família da noiva. Preparou-se como
mandam as boas regras de etiqueta. Uma roupa elegante. Um
ramalhete de rosas vermelhas, um bom vinho e uma caixa de
bombons finos para presentear a futura sogra.
Não fosse alguns problemas que viria a relatar tudo
seria perfeito. Pontualmente chegou a casa da noiva. Ao
entregar as rosas para a sogra o primeiro problema. A mãe
de sua noiva é alérgica a flores. Entregou
o vinho para a noiva que imediatamente escondeu-o em lugar
seguro. Exceto sua noiva, todos eram fervorosos religiosos
de uma igreja que considerava a ingestão de álcool
pecado mortal. Havia ainda os bombons. Ao final do jantar
entregou a caixa para a sua sogra que com aquele ar triste
e desaprovador disse-lhe que era diabética.
Segundo Carlão só faltava derrubar algo sobre
sua roupa. Nem disso ele escapou. Seu sogro contou aquelas
piadas sem graça e ele no afã de rir, derrubou
o café sobre suas calças. Foi aquele corre
– corre para limpa-lo.
Mas nem tudo estava perdido. Num momento de extrema sabedoria
Carlão relatou que lembrou de algumas passagens da
Bíblia, da época que foi coroinha na igreja
do seu bairro e de um período que namorou a filha
de um pastor. Entre os assuntos sobre o dia–a-dia,
política e a cerimônia do casamento ele mencionava
alguns versículos que lembrava. Nem sempre corretos,
mas com toda a boa intenção.
Carlão cometeu alguns erros básicos no que
podemos chamar de “vender” sua imagem para os
seus novos clientes. Não planejou o encontro com
os futuros sogros. Simples perguntas poderiam ser feitas.
Afinal sua deusa os conhecia e bem. Um outro deslize é
falar ou demonstrar que conhece um tema ou assunto muito
bem quando tem apenas conhecimentos superficiais. A autenticidade
é a base de qualquer bom relacionamento.
Lembre-se que a primeira imagem é que fica. A boa
intenção não basta. Seja firme nos
seus propósitos mas encare-os com simplicidade, humildade
e flexibilidade.
Aprovado por toda a família, apesar das trapalhadas.
Convidou-me para o casamento que será realizado em
abril. Com tudo que uma noiva tem direito. Tudo nos conformes.
Ela encontrou a deusa de sua vida.
Terminou garantindo-me que será muito feliz e antes
que eu perguntasse, fiel. Afinal a flexibilidade e a versatilidade
foram durante todos esses anos de convicto solteiro suas
maiores armas. Servirão para seu casamento.
No relacionamento inicial com o cliente nem sempre esses
pequenos erros serão perdoados. Um “casamento”
pode ser desmanchado antes mesmo do namoro.
Entretanto
neste nosso caso, com certeza Carlão será
feliz.
Armando
Ribeiro |