Muito
tem se falado sobre a eficiência, a eficácia
e a excelência dos trabalhos em equipe. Não
são poucas as organizações que tem
investido tempo e dinheiro, na formação, no
treinamento e no desenvolvimento das suas equipes de trabalho.
São inúmeros os consultores organizacionais
que incluem obrigatoriamente nas suas ofertas cursos do
tipo: “Formação de Times de Excelência”,
“Equipes Produtivas”, “Equipes de Alta
Performance” e assim por diante. Hoje falar em trabalho
em equipe é lugar comum. Pobre do gerente ou executivo
que deixe de falar “na sua equipe”, “na
nossa equipe”.
São inegáveis os excelentes resultados alcançados
por empresas de pequeno, médio e grande porte, nacionais
e multinacionais. Não é possível para
qualquer pessoa mais ou menos bem informada, não
saber sobre algum grande sucesso baseado no trabalho em
equipe, de algum “case” de uma organização,
pública ou privada , que a partir de um pequeno estímulo
e de uma boa liderança não tenha alcançado
resultados surpreendentes para os padrões brasileiros.
Centenas de artigos em todas as línguas estão
à disposição dos leitores assim, como
dezenas de livros, desde aqueles que descrevem as experiências
de sucesso até os que se propõem a ensinar
como formar e desenvolver equipes.
Equipe, segundo o dicionário Aurélio é:
conjunto ou grupo de pessoas que se aplicam a uma tarefa
ou trabalho. Para definir equipe de trabalho, vão
esbravejar alguns, é muito pouco. Equipe de trabalho
seria: duas ou mais pessoas que ao desenvolver uma tarefa
ou trabalho, almejam um objetivo único, obtido de
consenso. Ou ainda, equipe de trabalho é um grupo
de pessoas que compartilham de um mesmo objetivo. De outra
maneira: equipe é a união de um grupo de pessoas
em torno de objetivos desenvolvidos pelo próprio
grupo. Na verdade, quantas serão as definições
de equipe?
Penso que de todas as definições conhecidas
o que existe em comum é que os integrantes de uma
equipe de trabalho compartilham os objetivos e resultados.
Em outras palavras, isto quer dizer que a partir dos objetivos
individuais, constróem um ou mais objetivos que atendam
os anseios de todos os seus integrantes. Às vezes,
é preciso até abrir mão de parte de
seu objetivo pessoal para atender aqueles que toda a equipe
definiu. É numa última análise, um
conjunto ou grupo de pessoas que se aplicam a uma tarefa
ou trabalho, com um ou mais objetivos comuns, onde existam
condições que permitam, também, o crescimento
individual.
Fiz uma pesquisa há alguns dias atrás, com
duas dezenas de colegas e amigos e perguntei: Qual é
o seu objetivo para o próximo ano? Tive uma enorme
surpresa quando as respostas, as mais variadas possíveis,
indicavam claramente que a grande maioria não tinha
nenhum objetivo, nem de curto, nem de médio, que
dirá de longo prazo. Foi um susto muito grande. Esperava
que algumas pessoas dissessem ao menos, comprar um novo
automóvel, ou fazer uma viagem para o exterior, ou
um novo curso de língua estrangeira. Não nada
disso. Foi uma sucessão de desculpas, das mais ingênuas
até aquelas que tinham um embasamento retórico
considerável. Alguns deles creditam a sua vida pessoal
e profissional literalmente, sucesso ou fracasso, aos outros,
família, o governo, a bolsa de valores, a crise,
a sogra, Deus, Santos etc.
- Veja bem meu amigo, para mim o meu objetivo para o ano
que vem é ver meus filhos passarem no vestibular
e que eu consiga dar a eles todo o apoio para o sucesso.
Apoio que nunca tive.
- Mas e você, um objetivo só para você
(insisti), fale daquilo que é só seu e só
você pode realizar. Pode ser algo para daqui dois,
três ou mais anos.
- Olha meu amigo, para mim que já cheguei aos 50,
o que é que eu posso esperar? Não sei, mas
acho que cumpri meu papel. Já tenho tudo que queria.
Acho que agora é um bom preparo para aposentadoria,
dinheiro no bolso e... acho que você me entende.
Juro que não entendi. Meu espanto foi maior ainda
quando perguntei a todos o que achavam de trabalhar em equipe.
Todos foram unânimes em dizer que é fantástico,
que os resultados são excelentes, que o “clima”
é maravilhoso, dentre outros elogios rasgados. Acrescentei
perguntando se trabalhavam ou já trabalharam em equipe
e, à exceção de dois, responderam que
sim, desfiando um rosário de excelentes resultados
que tinham obtido com os trabalhos compartilhados.
Espero não estar errado, mas, ou eu não entendo
nada de equipe, ou eles não entenderam minha pergunta.
Para mim o fato de não ter nenhum objetivo pessoal
é um obstáculo intransponível para
trabalho em equipe. Vou compartilhar o que, se nada tenho
para dar? Como posso construir um objetivo comum se não
tenho nada para alcançar?
Se você não sabe
para onde ir, nunca chegará a lugar nenhum, mesmo
acompanhado. Comecei a entender porque nas
equipes nas quais trabalhei quando chegávamos ao
resultado positivo, ao sucesso, a vibração
de alguns era “xoxa”, sem graça, mínima,
tentando explicar o comportamento que sentia da parte de
alguns integrantes daquele conjunto de pessoas. Será
o início do entendimento do porque de tantos obstáculos
colocados por alguns integrantes, tanta desmotivação,
tanta vontade de que o objetivo não fosse alcançado?
Havia em algumas daquelas equipes um número de pessoas
que, embora conhecedores da metodologia de trabalho em equipe,
viviam contestando as decisões tomadas em grupo.
Posicionavam-se a favor de alguma decisão na hora
da discussão, mas na hora do café desfiavam
inúmeras razões para justificar a sua omissão
ou sua mentira. Quando perguntados porque não falavam
na hora, diziam que não adiantava, a sua opinião
em nada iria mudar a dos outros. Dependendo da pessoa as
desculpas eram das mais simples até algumas que batiam
na porta da genialidade. Infelizmente nunca tive a devida
paciência de anotar ou gravá-las em minha mente,
seriam muito úteis hoje.
Percebi que não eram equipes verdadeiras e o quanto
é comum a confusão que se faz entre equipes
de trabalho e pessoas que trabalham juntas. Grupos bem coordenados
e com boas lideranças podem atingir resultados, mas
jamais terão certeza do atingimento de objetivos
comuns e nem da satisfação de todos os indivíduos.
Regra geral, não há comprometimento. Nas equipes
de trabalho existe uma vibração positiva e
a conjugação do verbo crescer vem do interior
de cada um dos seus integrantes: eu cresço, nós
crescemos e eu cresço...
Será um defeito da nossa cultura ocidental ter tanto
descrédito para idéias e objetivos compartilhados?
Será falta de preparo das pessoas e dos profissionais?
Será um subproduto de uma época de transição
e de profundas mudanças? Serão mentiras os
resultados que se propalam por aí? Estará
existindo uma supervalorização da equipe em
detrimento das pessoas que a formam? Será que importa
mais o método do que os resultados? Não tenho
respostas, aliás, tenho muitas perguntas ainda a
fazer.
Refletir sobre o tema e fornecer alguns referenciais sobre
como poderemos solucionar esses problemas de desmotivação,
mentira, hipocrisia e tantos comportamentos que fazem com
que as supostas equipes de trabalho fracassem é o
que acho que tem de ser feito. Não se trata de procurar
culpados, mas elaborar uma lista de condições
favoráveis que influenciem os resultados. É
procurar respostas com as pessoas que perceberam ser muito
mais fácil o desenvolvimento pessoal e profissional
quando juntaram seus esforços com os de outros seres
humanos.
São primordiais algumas condições básicas
para o desenvolvimento de verdadeiras equipes de trabalho.
- Promover a discussão da missão, dos valores
e dos limites dos indivíduos e da equipe.
- Conhecer os objetivos pessoais e profissionais de curto,
médio e longo prazo de cada um dos integrantes. Saber
para onde querem ir.
- Criar ambiente que favoreça, permanentemente, a
confiança, honestidade, respeito, o diálogo
e o bom-humor.
- Definir com clareza os objetivos a serem alcançados.
- Criar condições que favoreçam a transformação
individual e da equipe.
- Desafiar. Nenhuma equipe sobrevive sem desafios.
- Permitir que a liderança seja democrática,
escolhida preferencialmente pelos integrantes da equipe.
- Promover trabalho que agregue valor.
- Propiciar condições para que cada integrante
possa assumir riscos.
- Conjugar os verbos na primeira pessoa do plural –
NÓS.
- Ter visão de futuro.
- Aprimorar constantemente as relações interpessoais.
- Focar nos resultados e nos relacionamentos.
- Conhecer as competências de cada um dos integrantes.
As condições acima não estão
propositalmente numa ordem de preferência ou de prioridade.
Nas minhas reflexões sobre o assunto ainda tinha
uma dúvida para tirar: será que as condições
acima são suficientes para um bom trabalho em equipe?
Felizmente não. As verdadeiras equipes de trabalho
são únicas, são formadas por pessoas,
com objetivos, história de vida, necessidades e desejos
diferentes, elas escreverão suas próprias
condições e comprometidas organizarão
as condições do jeito que melhor as satisfaça.
Antes de nos rendermos aos modismos e aos cursos que prometem
o “sucesso das equipes de trabalho” em 10, 20
ou 30 horas, é preciso primeiro olhar atentamente
para cada um dos nossos colegas, colaboradores e amigos.
Mais ainda, incentivá-los na busca de seus objetivos
e ideais. Fazer uma análise de como andam as relações
interpessoais, seus comportamentos e atitudes; o que é
para nós - fracasso ou sucesso? O que estamos fazendo
agora? As respostas poderão indicar diversos caminhos
a serem seguidos um deles poderá ser o trabalho em
equipe.
Podemos iniciar exercitando nossas mudanças. Um grande
amigo, Ernesto Mandelli, consultor organizacional, morando
hoje em São Luís (MA), elaborou um exercício
chamado PROJETO DE VIDA, que pode ser utilizado. Mas invente,
crie, renove, altere, acrescente tudo que você achar
que vai ajudá-lo a desvendar seus próprios
caminhos.
PROJETO
DE VIDA
-
Defina os seus objetivos de vida:
PROFISSIONAL -
FAMILIAR -
FINANCEIRO -
SOCIAL -
FÍSICO -
MENTAL -
ESPIRITUAL -
- Liste especificamente três mudanças que você
quer realizar em si próprio. Verifique se é
o que você realmente quer (em direção
a) e não o que você deseja evitar (em fuga
de). Certifique-se que as mudanças são em
você e não nos outros.
1ª
-
2ª -
3ª -
- Liste três benefícios e vantagens que você
terá com as mudanças:
1ª mudança -
Vantagens -
2ª mudança -
Vantagens -
3ª mudança -
Vantagens -
Se
você quiser incrementar um pouco mais este exercício
você pode perguntar:
- Quais os recursos vou utilizar para atingir meus objetivos?
- Posso dividi-los em metas?
- Como posso escolher um indicador concreto para comprovar
se os objetivos ou metas foram atingidos?
- Quais são os prazos que darei? (Uma dica: comece
com prazos de 1 ano).
Um último lembrete:
Não guarde o resultado deste exercício (seus
projetos), no fundo daquela gaveta que só mexemos
nas grandes arrumações. Leve-o consigo, deixe
bem perto de você , pois a qualquer momento pode lê-lo
e modificá-lo. O seu projeto de vida tem de ser dinâmico
e não estático. Bons projetos. Bom trabalho
em equipe.
Armando
Ribeiro |