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O Humor nas Organizações |
“Complicar
aquilo que é simples é lugar comum, tornar
simples o que é complicado é criatividade”
Charles Mingus, músico norte americano
Habitualmente,
como em todas manhãs de segunda-feira João
colocava sua gravata azul marinho e saía para o trabalho.
E como em todas as semanas, pelas 42 ou 43 semanas do ano,
João praguejava no caminho de casa para o trabalho.
Sujeito de poucas falas, no trânsito da cidade tinha
um dialogo fantástico com os demais motoristas: seu
barbeiro! sua mãe é uma... santa! lesma paralítica!
João K. Tastrof chegava no seu trabalho com os nervos
à flor da pele.
Do
outro lado da cidade, quase no mesmo horário, partia
para seu dia de trabalho o José. Meia hora a pé
até o ponto de ônibus. Duas horas no coletivo,
cheio, apertado, amassado e vez ou outra, apalpado. José
pouco falava mesmo, só pensava nos veículos
que estavam nas ruas e avenidas e sonhava em estar dentro
de um deles. Para ele pouco importava o congestionamento,
precisava ter espaço e conforto. Um carro próprio
seria a solução. José Kataclisma chegava
no trabalho cansado e desanimado.
O
nosso terceiro personagem tinha algumas mordomias. Sai de
casa no máximo dez minutos antes do horário
do trabalho iniciar e vai a pé. Luiz mora perto da
empresa. Não era o que ele e a mulher imaginavam
como casa. Bem apertado seu apartamento, meio barulhento,
mas economizava na condução. Suas noites não
eram daquele sono gostoso. Agitadas, turbulentas e barulhentas.
Luiz Kaos, chegava no seu trabalho irritado, desmotivado
e ansioso.
Felizmente,
os três não trabalham juntos. Cada um pertencia
a um departamento da empresa.
João
era elétrico ao tomar decisões. Nunca teve
calma, nas segundas e sextas-feiras a situação
era ainda pior. Confundia agilidade com precipitação.
Tomava decisões embaixo de espadas imaginárias
que estavam sempre a rondar sua cabeça. Seu superior
também não era uma pessoa que pode-se dizer
bem humorado, ao contrário, vez em sempre, passava
por todos e não cumprimentava, às vezes grunhia
algo parecido com: Bom dia porque!!!!?. Humor, ou melhor,
bom humor, era algo que João conhecia somente de
ouvir falar, ou coisa de seus sonhos. (Aqueles sonhos que
não contamos para ninguém).
José
não chegava nunca. Estava lá só de
corpo presente. Não tinha forças para dar
nem um sorriso, quanto mais responder os cumprimentos dos
colegas. Sentava na sua mesa, abria a gaveta mecanicamente,
tirava o que necessitava e ficava esperando que lhe dissessem
o que teria para fazer. Quando surgia a primeira tarefa
respondia imediatamente com a primeira “droga”
do dia. Começava com droga, passava ao longo do dia
para mer* e acabava no final da tarde com “p.q.p”.
Humor para ele era igual ao resultado de pastel de carne
mais sanduíche de mortadela com pimenta. Entendeu
ÔO meu!
Luiz
era o que ficava mais tempo sem sentir tanto a pressão
do início do dia. Vestia-se bem, estava sempre arrumado,
exceto nos dias de chuva. Não tinha uma posição
na hierarquia que o ajudasse a subir ou almejar melhor salário.
Isso era desanimador. À medida que o dia ia passando
ele ficava pensando nas contas que tinha que pagar, no dinheiro
que poderia ter para comprar ou alugar uma casa melhor.
Humor para ele era algo que sempre interferia nas coisas
do dia. Como ele pensava: bom humor é coisa de hiena,
come fezes e ainda ri. Rir do que?
João,
José e Luiz são personagens, mas pra muitos
de nós são reais. Arrisco dizer que alguns
chegam a se identificar com eles.
Bom humor para eles não é nada fácil
de ter, certo? Errado.
Vamos
então falar um pouco da vida de quem tem bons humores.
Humor é uma palavra que se origina do latim “humor–oris”
e que originalmente significava: líquido contido
num corpo organizado ou cada um dos quatro principais fluídos
do corpo que se julgavam determinantes das condições
físicas e mentais do indivíduo. No século
XV, influenciada pela palavra inglesa humour, passou para
a forma como hoje conhecemos - boa disposição
do espírito, veia cômica, ironia.
O
bom humor comprovadamente produz fluídos, hormônios
que estimulam nosso corpo. São as endorfinas, responsáveis
pelo equilíbrio e bem estar do organismo. Notem que
as pessoas “bem humoradas” são aquelas
que dificilmente adoecem. Estão sempre aptas a doar
alegria para alguém. Conseguem resolver problemas
com muita tranqüilidade e calma. Tem sorte na vida
e conseguem sucesso de uma forma toda especial. Estão
sempre cercadas de outras pessoas e parecem viver intensamente
cada momento.
Não
quero dizer que não sintam tristeza, melancolia,
raiva, ansiedade e tantos outros sentimentos normais do
seres humanos. O que faz com que sejam pessoas bem sucedidas
é que não ficam por muito tempo com esses
sentimentos negativos. Tem sempre uma visão positiva
das coisas.
Não
contem para elas desgraças, pois serão capazes
de rir ou pedir para você procurar outra turma. Evitam
as catástrofes e as desgraças. Riem de si
mesmas dos seus erros e produzem sempre um efeito de bem
estar. Nunca ficam sozinhas, mas quando precisam se isolar
o fazem sem constrangimento e sem lamentações.
Imagine
a cena: Início da segunda-feira de um dia chuvoso,
véspera da entrega do relatório mensal. No
departamento todos estão trabalhando de cabeça
baixa e aceleradamente. O Chefe entra, olha e vê aquele
ambiente macambúzio e sorumbático (novíssimas
palavras). Pega uma vassoura que está encostada num
canto da sala e imitando um trotar de cavalo, entra na sala,
estaciona seu corcel na mesa, desmonta, tira seu chapéu
imaginário, balança-o como se o estivesse
limpando da poeira, olha para seus colaboradores, ajeita
sua gravata com desenho do Frajola e exclama: - Bons dias
pessoar ! que belo dia hoje né?
A
primeira impressão que temos é a mesma dos
colaboradores: Ficou maluquinho de pedra! Mas esboçamos
um leve sorriso pelo inusitado. O Chefe continua e interrompe
todos – Tenho importante notícia para todos.
Sem que possam interrompe-lo, continua: - Hoje na hora do
almoço eu pago uma coxinha de galinha e meia guaraná,
sem gelo, no Sujo’s Bar. Quem se habilita? Novamente
o murmúrio e as risadas começam a aparecer
e se instala um novo ambiente. Um dos seus colaboradores
conversa com outro em tom mais baixo: Maluco ele já
é, mas não é perigoso e é até
um bom sujeito! Onde é que ele arruma tanta alegria?
Se
eu pudesse contar quantas histórias como essa eu
conheço ficaria aqui umas dez páginas. De
certo é que aquele Chefe transformou por alguns instantes
um ambiente triste e mau humorado num lugar um pouco melhor
para trabalhar. Ele fez uma escolha. Não se deixar
influenciar pelo lado negativo da situação
e procurar transformar o ambiente onde os fluídos
benéficos possam circular.
A
irreverência faz parte do bom humor. Com aquele comportamento
inusitado ele convocou outros para o riso, criando um clima
de alegria e espontaneidade.
Entretanto
há uma diferença fundamental entre bom humor
e humorismo. O bem humorado ri de si mesmo, o humorista
ri do outro, de situações vexatórias,
usa e abusa dos preconceitos e das desgraças. Aliás,
as melhores piadas não são por acaso aquelas
que mencionam situações preconceituosas: loira,
padre, freira, políticos, corno, mulher do outro,
português, negro, judeu, etc.?
Tive
o prazer de conhecer dois grandes humoristas que são
pessoas no seu convívio diário extremamente
mal humoradas. Conseguem traduzir todo esse humor negativo
contando piadas.
O
bem humorado ri dos próprios erros e dificuldades.
As pessoas que convivem com ele se sentem à vontade
para arriscar, ousar inovar, sem medo de serem criticadas.
Aprendem a rir.
João,
José e Luiz, mando para vocês algumas dicas
para poder transformar seus humores malignos contagiantes
em bons humores:
-
ao levantarem, ao invés de ouvirem as notícias
que contam as primeiras desgraças do dia, ouçam
músicas alegres.
- Leiam revistas em quadrinhos do Maurício de Souza,
ou do Ziraldo.
- Assistam filmes de comédia. Um bom filme é
o Amor é Contagiante – A história de
Patch Adams que trata as doenças com bom humor. No
papel principal Robin Willians.
- Se estiver dirigindo e puder ouvir rádio, não
coloque em rádios de notícias e evitem ouvir
os analistas econômicos (pelo menos pela manhã).
- Colecionem frases de bom humor. Acredite nelas.
- Aprendam a contar piadas sobre o seu comportamento. Conte
o dia que você estava andando com aquela namorada
toda especial, trombou com algo, pediu educamente desculpas,
e a sua namorada passou a chorar de rir, pois você
tinha trombado com um poste e um galo já começava
despontar na sua testa.
- Aproxime-se das pessoas bem humoradas e afaste-se dos
urubus.
- Façam alguma atividade alegre. Escolha e seja responsável
pelas suas escolhas.
- Escolha ser feliz.
- Tenham bons pensamentos. Pensamentos positivos ativam
cada vez mais os hormônios que irão dar forma
aos estados de bons humores do corpo.
- Tenha sucesso e corra atrás dele. Habitue a sua
mente a pensar somente em vitórias, faça das
derrotas um aprendizado.
- Seja criança de vez em quando. Brinque com alguém
ou sozinho.
À
essas dicas poderíamos acrescentar mais de uma centena,
mas uma parece que pode ser essencial: quebre as regras
e faça algo diferente e inusitado todo dia. Passe
na floricultura compre uma flor e presenteie quem você
ama.
Lembre-se
que tanto o mau quanto o bom humor são contagiantes.
Você pode escolher viver com um ou com outro. Você
decide.
E
o pessoal da minha empresa que fazer. As dicas para o pessoal
do RH que poderão ajudar as empresas como um todo:
- Se as áreas de trabalho tem paredes de cor escura,
pintem com cores claras e vivas.
- Se existe música ambiente, escolham seleções
de músicas calmas, mas alegres.
- Se existe um jornal ou informativo, dediquem pelo menos
um quarto do jornal para notícias alegres, piadas,
charges e outros que façam as pessoas sorrirem.
- Incentivem todos os setores e departamentos de ter pelo
menos uma hora de descontração por semana.
A hora do Riso semanal.
- Organize um torneio de jogos lúdicos e de piadas.
As
organizações onde reina o bom humor tem obtido
maior lucro que as outras? Eu diria que sim. Não
consegui enxergar nenhuma que obtivesse lucro ou existência
longa com o uso do mau humor. Quando as organizações
incentivam o bom humor nos seus funcionários, as
equipes ficam mais energizadas. Ficam mais humanas.
Sabe
aquela: Tinha um cantor lírico muito famoso nos EUA
que um dia sugeriu ao seu empresário que lhe arrumasse
uma apresentação no Scala de Milão.
E assim aconteceu. Noite de estréia, casa cheia,
e o artista cantou a primeira música. Ao final a
platéia gritava: - Bis, repete de novo! O cantor
não entendeu a situação: primeira música
e a platéia pede bis. Ele resolveu satisfazer o público
e cantou mais uma vez o mesmo número. Ao final o
público repetiu: Bis, repete de novo! E assim aconteceu
mais algumas vezes. E o público gritando: Bis, repete
de novo! Enfim exausto, ele perguntou à platéia:
- Até quando querem que eu repita esta peça?
Uma velhinha que estava na primeira fila respondeu: - Até
cantar direito !!!
Isso
é a vida, temos que tentar, repetir e tentar de novo,
até atingirmos aquilo que esperamos. Da próxima
vez farei diferente!
É
só uma questão de escolha.
Armando
Ribeiro |