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Sensibilidade Como Qualidade do
Líder |
Poucos
instantes antes de receber o convite para escrever esse
artigo, eu navegava na internet quando deparei-me com uma
notícia de um jornal londrino, a respeito de uma
pesquisa sobre a cultura de consumo atual de crianças
com faixa etária entre um e três anos, manifestando
comportamentos típicos da adolescência! Essas
crianças inglesas possuem televisão e aparelhos
de som (CD) em seus próprios quartos e estão
exigindo roupas de marcas famosas (griffes)!
Lembrei-me de um grande amigo, quando dizia acreditar que
nossa geração estava presenciando o parto
ou o nascimento de uma super-humanidade - considere o fato
de que as gerações que hoje detêm ou
assumem a liderança nas organizações
tiveram como modelos, na infância e adolescência,
os super-heróis (seres que voavam, comunicavam-se
telepaticamente, moviam objetos com a força do pensamento,
possuíam visão de raios X, etc). Mesmo que
acreditemos que isso são apenas produtos da imaginação,
lembre-se que tudo o que vemos e fazemos atualmente, foram
apenas fantasias na mente de nossos ancestrais - até
mesmo passíveis de punição em algumas
épocas da nossa história! Lembre-se do telefone,
avião, microondas, computador pessoal, a conquista
da Lua, etc.
Refletindo sobre esse cenário, fico me perguntando:
o que é liderança? Ou talvez, quais serão
as condições de sobrevivência das organizações
e as características do que chamamos de liderança
nesse futuro que já iniciou? Sentindo-me meio órfão
de bases conceituais ou paradigmas que me permitam perscrutar
esse futuro incerto, tento organizar o caos das evidências
e notícias que me impactam a cada instante, referenciando-me
em minhas próprias reflexões. Como estudioso
do aprendizado e do comportamento e apaixonado pelo conhecimento
subjetivo, as únicas idéias que me sobrevêm
são, na verdade, duas perguntas:
1) Como, numa época remota de nosso processo evolutivo,
os organismos unicelulares "resolveram" ou "decidiram"
associar-se para sobreviver? Será que houve uma liderança
além da consciência coletiva nesse processo?
Quem sabe tenham "percebido" que se estivessem
juntos, embora tivessem que dividir o alimento, ora abundante
ora escasso, estariam mais bem protegidos de serem devorados
por organismos maiores! Certamente essas várias associações
sucessivas ao longo da jornada evolutiva, após várias
crises e diferentes estágios, tornaram-se a base
para a manifestação da inteligência
e sabedoria humanas que nos permitem fazer tais divagações!
2) Observando o organismo humano, a manifestação
da consciência em seus vários níveis
e dos processos inconscientes, como podemos saber quem é
o líder?
Penso que, muitas vezes, uma pergunta pode valer mais do
que uma resposta - pelo menos é isso o que nos ensina
a história da ciência! Assim, mesmo sem conhecer
em profundidade as organizações, quero acreditar
que a Inteligência que garantiu a sobrevivência
dos seres vivos ao longo de tantas eras, cujos segredos
e compreensão estão sendo paulatinamente desvendados
pela ciência e pela consciência humanas, poderá
nos apontar possíveis soluções para
compreendermos como nós, seres humanos, que somos
células de "seres vivos" ou "organismos"
maiores chamados famílias, empresas, associações,
comunidades, países, continentes ou planeta, estaremos
mais aptos a sobreviver.
Munido de alguns referenciais pertinentes ao pensamento
sistêmico, a primeira idéia que pode nos nortear
é que soluções de curto prazo podem
ser problemas de longo prazo, e vice-versa (muitos problemas
são, na verdade, soluções!). Sendo
bastante simpático ao modelo das Organizações
de Aprendizagem de Peter Senge [cujos pilares de sustentação
são a priori: domínio pessoal (desenvolvimento
pessoal), modelos mentais, objetivo comum, aprendizado em
grupo e raciocínio sistêmico] e a observação
do equilíbrio dos sistemas vivos (juntamente com
os modelos da Natureza que nos permitem identificar padrões
que controlam eventos), uma das coisas que mais me fascina
é notar a multiplicidade de fatores inter-relacionados
que condicionam o processo de escolha. Isto é, quando
você deseja tomar uma decisão difícil
e não consegue, quais são as forças
que estão em jogo? Ainda indagando sobre os impulsos
naturais, de onde vem a ordem que o faz acordar todas as
manhãs?
Assim, analisando a conjugação de interesses
e motivações que impelem nossas ações
e decisões, seja na dimensão individual, familiar,
empresarial, associativa, comunitária, nacional,
continental ou planetária, mesmo identificando os
seus condicionamentos, leis, critérios e valores
diferentes, podemos notar que as diferentes forças
políticas interagem até que sejam definidas
as ações. Além disso, quanto mais "camadas"
estejam em harmonia ou indivíduos sinergicamente
atuantes em um empreendimento qualquer, seja ele liderado
ou não, maior o poder de mobilização
e realização é colocado em ação.
Dessa forma, admitindo uma estrutura fractal(*) que relacione
todas essas dimensões, talvez possamos tentar imaginar
se as mesmas regras poderiam caber nesses diferentes níveis.
Isto é, será que o mecanismo que condiciona
as decisões e ações em níveis
mais complexos seriam os mesmo que os condicionam e níveis
mais simples? Será que a tomada de decisão
em grupos de indivíduos é semelhante ao processo
de tomada de decisão dentro eu um único indivíduo
no relacionamento de suas sub-identidades? Será que,
assim como as células que compõem os nossos
tecidos, órgãos, etc, nós também
somos células menores de organismos maiores? Será
que aquilo que está em cima é "igual"
àquilo que está embaixo? Será que os
átomos são semelhantes aos sistemas planetários?
Um dos mais modernos modelos de compreensão da mente
humana admite que o nosso relacionamento interior (aquele
relacionamento que temos para com cada um de nós
mesmos, com nossas fantasias, motivações,
conflitos e sentimentos) é apenas um reflexo de nosso
relacionamento com os outros, e vice-versa - que o nosso
mundo da experiência subjetiva é semelhante
ao de nossa experiência objetiva. Então, será
que todas essas dimensões em que existimos (individual,
familiar, empresarial, associativa, comunitária,
nacional, continental ou planetária) seriam somente
diferentes níveis fractais de uma consciência
ainda mais ampla?
Essas idéias, embora sejam apenas modelos ou construções
do intelecto, me ajudaram a construir a tabela abaixo abstraída
da observação de agrupamentos de graus de
complexidade crescentes conforme abaixo, apresentados de
forma simplificada e ilustrativa: Indivíduo grupo
superior Indivíduo grupo superior Átomos moléculas
tecidos órgãos Moléculas proteínas
órgãos seres vivos/homem Proteínas
genes homem família/organizações Genes
células família/organizações
comunidades/mercados Células tecidos comunidades/mercados
civilização.
Bem, você pode estar pensando agora, depois de toda
essa "viagem", o que o conhecimento atual sobre
comportamento humano poderia contribuir para minha compreensão
de como serão os novos paradigmas sobre liderança?
Primeiramente, gostaria de considerar que possuímos
uma memória responsável tanto por aquilo que
denominamos aprendizado, quanto aquilo que chamamos de condicionamentos
(paradigmas, hábitos e vícios, "miopia
conceitual", etc), ou seja, que possui aspectos positivos
e negativos. Em segundo lugar, que cada ação
efetiva e cada decisão, tem lugar apenas na medida
em que, democraticamente ou autoritariamente, cada indivíduo
mobiliza dentro de si seus interesses ou necessidades pessoais,
seu organismo como um todo, seus sentimentos e sensações,
sua percepção e suas memórias, seus
critérios e seus valores (como na doutrina de Maslow).
Ou seja, existem várias dimensões diferentes
a serem levadas em conta (essa analogia serve, da mesma
forma, para famílias, empresas, associações,
comunidades, países, continentes ou planeta.
Essa reflexão matricial serve para nos induzir a
encontrar uma compreensão mais ampla e sistêmica
dos papéis e atribuições das futuras
lideranças dessa super-humanidade, já intuída
pelos mais arrojados gestores e empreendedores das organizações,
tais como os "cases" de Jan Carlzon (A Hora da
Verdade) ou Ricardo Semler (Virando a Própria Mesa).
Não obstante, tais modelos de gestão podem
parecer um retorno às nossas origens, já que
algumas culturas indígenas bastante anteriores ao
mundo chamado de civilizado, propunham que, onde houver
dois ou mais indivíduos reunidos em torno de um objetivo
comum, ali se conforma uma mente coletiva que passa a se
expressar através de cada um de seus indivíduos.
Essa mente coletiva percebida pelos índios poderia
muito bem ser chamada de sinergia (linguagem empresarial),
master mind (tão utilizada na criação
publicitária) ou mesmo de consciência.
Para finalizar, então, se desejarmos aprender mais
profundamente sobre as possibilidades, recursos ou características
dos principais líderes da Era da Intuição
(admite-se ser uma das possíveis sucessoras da Era
da Informação), talvez algumas das mais significativas
soluções ou respostas estejam dentro de nós
mesmos! Basta apenas explorarmos com cuidado o universo
de nossas motivações, sub-identidades, crenças
e valores, processos decisórios, para compreendermos
que tanto a tirania quanto a democracia são apenas
estágios primitivos na longa jornada de alinhamento
de nossas forças mais íntimas.
Algumas das principais evidências disso são
uma atenção cada vez maior dada ao auto-conhecimento,
ao conhecimento da natureza humana, às inteligências
emocional, interpessoal, intrapessoal, relacional, à
sensibilidade, ao discernimento e à intuição.
Pois as principais lideranças já conhecem,
possuem, estudaram e esgotaram todos os conhecimentos na
área técnica, MBA's, etc, e todas essas certificações,
como bem sabemos, não garantem a competência,
freqüentemente ofuscando as mais importantes qualidades
buscadas em líderes de vanguarda, isto é,
pense nos líderes mais carismáticos que você
conhece, será que as suas melhores qualidades advêm
de tais certificações? Quantos deles, muitas
vezes, que nem sequer cursaram faculdades?
São essas competências humanas, além
das competências técnicas, algumas das principais
qualidades que diferenciam um verdadeiro líder. Talvez
porque sejam essas características exatamente aquelas
que tornam o líder mais apto a perceber, sentir,
identificar, manifestar e expressar os desígnios
das mentes coletivas (equipes) às quais pertencem
(lideram)!
Por fim, a flexibilidade (segundo a Cibernética),
a expansão de consciência (segundo alguns dos
modernos pensadores sobre a espiritualidade das organizações
- nenhuma relação com religião ou instituições)
a sensibilidade e a percepção (segundo minhas
reflexões) são importantes habilidades que
podem permitir a expressão mais precisa dos movimentos
de graus de consciência mais refinados, exatamente
conforme os verdadeiros atributos do arquétipo de
um rei, capaz de acolher e sintetizar os interesses de todos
os seus súditos e organizá-los e orientá-los
à consecução de seu destino coletivo,
conforme a expressão dos próprios membros
de tais comunidades; o verdadeiro rei é aquele cujos
súditos dizem: "Nós fizemos isso!".
(*) Fractais são
formas igualmente complexas no detalhe e na forma global.
Esta é uma das principais características
dos fractais: a auto-semelhança. Você vê
isto sempre que corta um pedaço de couve-flor e vê
que este pedaço é semelhante à verdura
inteira. A Ciência dos Fractais apresenta estruturas
geométricas de grande complexidade e beleza infinita,
ligadas às formas da natureza, ao desenvolvimento
da vida e à própria compreensão do
universo. São objetos que apresentam auto-semelhança
e complexidade infinita, ou seja, têm sempre cópias
aproximadas de si; mesmo em seu interior (colhido na internet).
Viviani
Bovo & Walther Hermann
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