Nas
empresas e organizações públicas é
quase uma regra a diretoria e principais assessores serão
substituídos a cada novo mandato eletivo. No caso
da empresa onde MadaLena trabalha, uma instituição
pública federal, isso não é diferente.
MadaLena, naquele 2002, recebeu a informação
que o novo diretor da sua área – Dr. João
– tomaria posse no dia 03 de março e estaria
convocando todos os gerentes para uma reunião de
posse e apresentação.
Pontualmente, como de costume, a minha amiga estava no auditório
e vê entrando pelos fundos do palco o novo Diretor.
Animada, eufórica e extremamente feliz, Madalena
não resistiu e gritou: Joãozinho é
você!
Um silêncio constrangedor pairou no ambiente. MadaLena
não satisfeita foi até o novo Diretor e deu-lhe
um daqueles abraços que só ela sabe dar. Um
dos colegas gerente comentou com seu companheiro: baixou
o espírito de Lena!
Dr. João, com seus quase 2 metros de altura, - o
Joãozinho - era conhecido como a pessoa mais popular
da empresa, profissional brilhante, líder natural,
alegre, descontraído e de uma conversa agradável
e entusiasta. Capaz de animar qualquer grupo de pessoas
com seu humor. Não lembrava nem de longe aquele sujeito
agora austero e de feições duras. Ao receber
o abraço de MadaLena, sussurrou ao seu ouvido, agora
sou o Dr. João.
MadaLena voltou ao seu lugar decepcionada. Pensou por alguns
momentos que estaria nascendo a oportunidade de ver renascer
uma liderança na organização que fosse
pautada na participação e na melhoria de ambiente
de trabalho, que para quem não sabe estava para lá
de péssimo.
A fala do Dr. João foi contida e extremamente arrogante,
cheia de lugares comuns. A centralização de
poder e das decisões ficaram evidentes naquele discurso
de posse. Enfim, MadaLena e os demais gerentes perceberam
estar entrando em dias muito mais difíceis do que
imaginavam.
Quem conhece MadaLena sabe que ela não é de
deixar as coisas para lá, gratuitamente. Sabem que
quando vem a tona seu perfil de Mada situações
interessantes acontecem.
Terminada a apresentação, o Dr. João
informou que todos os gerentes seriam chamados para reuniões
individuais para que ele pudesse conhecer o trabalho, o
planejamento de cada um e principalmente traçar os
novos rumos que a empresa teria que tomar a partir daquele
momento.
MadaLena foi a primeira a ser convocada. Naquela tarde mesmo
iria acontecer a sua reunião com o Joãozinho.
Ao entrar na sala do diretor, olhou nos olhos e sem nenhuma
cerimônia falou:
- Onde está aquele Joãozinho que conheci há
tantos anos atrás?
- Como pode uma pessoa mudar tanto?
- Que aconteceu com as suas idéias de liderança
democrática e promotora do bem estar das pessoas?
- Cadê o espírito de equipe?
- Por que tanta arrogância?
Joãozinho respondeu que agora tudo era diferente,
tinha sob seu comando mais de 500 pessoas, tinha que ser
mais sério, o cargo assim o exigia, e todas aquelas
coisas que estamos acostumados a ouvir.
MadaLena, impassível, ao longo de tantos anos convivendo
junto com o seu colega, disse-lhe duas coisas:
- Primeiro para mudarmos uma cultura que tanto questionamos
e reprovamos precisamos dar o exemplo. Líderes e
transformadores são forjados através da coerência
do discurso e da prática.
- Se quisermos mudar o modelo precisamos trabalhar com a
mudança de cultura da organização.
MadaLena voltou-se, caminhou em direção à
porta, ao sair fez um sutil aceno de despedida. Falou com
sua voz leve e doce: Pense nisso Dr. Joãozinho (com
algum ênfase). Saiu.
Os resultados dessa conversa e as ações do
novo diretor estou cobrando de MadaLena desde então.
No último contato que tivemos ela prometeu contar
em breve. Vamos, enquanto isso, refletindo sobre o tema
“mudando a cultura da organização”.
Quais
as razões nos levam a reagir, agir e pensar exatamente
como aqueles que tanto questionávamos e reprovávamos?
Armando Ribeiro |