-
Falando Sobre Comprometimento |
O
que é afinal comprometimento? Em todos as rodas de
negociação, nos eventos, no intervalo para
o café, nas reuniões de todas as espécies
fala-se em comprometimento. Criaram-se até histórias
para explica-lo. Lembram-se da história do “bife
a cavalo” e a do “bacon com ovos”?
Há
alguns meses atrás, estive trabalhando com um grupo
de líderes coordenando um evento que tinha a finalidade
de realizar o planejamento para o ano de 2002. Ouvi de um
líder – vou chamá-lo a partir deste
ponto de Sr. X - algo que me deixou surpreso: Eu já
fui muito mais comprometido... agora as situações
são outras e não estou (comprometido) tanto
quanto há alguns anos.
Respondi
que não havia entendido nada, para mim ou se está
comprometido ou não. Não
existe meia gravidez. Ele resolveu explicar
e a partir desse momento ficou impossível entende-lo.
Aqui entre nós, tem certas coisas que é melhor
nem tentar explicar. Ele infelizmente tentou. Corneteou
uma série de lugares comuns, contou histórias
que nunca levavam a um objetivo claro, falou-me das injustiças,
das maldades que fizeram com ele (em algumas era a vítima)
e com os outros, citou casos com números e dados
estatísticos (incompreensíveis). Falou de
um passado de glórias e insucessos. Enfim passou
quase 40 minutos tentando justificar aquilo que pareceu-me
injustificável!
Passei
o restante do evento procurando observá-lo com muito
cuidado. Mostrou-se sempre atencioso e atento, passava as
informações pertinentes aos demais líderes
que participavam do evento, contava histórias sobre
o início da organização, coletava dados.
Um participante que todo facilitador gostaria de ter em
seus grupos. Em nenhuma situação ficou claro
o seu “não comprometimento”, ao contrário
estava sempre na linha de frente, questionando, propondo,
sugerindo, lutando. Ele foi o leão do evento (tipo
leão de treino).
Evento
terminado. A partir daquele dia os líderes deveriam
coletar informações, aplicar alguns instrumentos
de pesquisa e retornar após 15 dias com os dados
para uma reavaliação, confirmação
ou possíveis correções nos projetos
definidos.
No
dia combinado, o Sr. X, não trouxe nenhum dado!.
Argumentou que faltou tempo, que os instrumentos não
eram precisos, que não eram fáceis de aplicar,
que as perguntas não levavam ao que se pretendia.
Resumindo o drama : Tudo o que fizemos, na sua opinião,
de nada adiantaria, face aos problemas estruturais que a
organização estava passando, a conjuntura
econômica, a Guerra do Golfo, patati – patatá,
tralele-trololó...
Você está surpreso? Eu e mais 25 líderes,
presentes naquela sala, ficamos sem entender nada! O Sr.
X havia se transformado em 15 dias. Amargo, mau humorado,
pessimista e tantos outros adjetivos que acredito qualquer
leitor será capaz de identificar. Foi um choque de
milhares de volts, acompanhados de uma ducha de água
fria “siberiana”.
Como
entender essa brutal transformação?
Como
facilitador passei a ouvi-lo, tentando buscar junto aos
demais líderes, argumentações ou dados
para entender o que ele dizia. Aqui cabe uma explicação
importante: ele não tinha dados confiáveis
que pudessem dar suporte às suas afirmações,
utilizava a, palavras dele, sua intuição,
seu conhecimento de anos da empresa/mercado, mas... na opinião
da maioria dos demais líderes o “achômetro”.
O
Sr. X havia demonstrado, com clareza, naquele momento o
seu “não comprometimento”? Estaria com
ele a razão? Deveríamos ouvir e atender seus
pedidos e recomeçar todo o processo? Deveríamos
deixa-lo de lado e continuar como se nada tivesse acontecido?
Antes
de responder essas questões é preciso clarear
o que entendemos por comprometimento. Com-prometi-mento
é o substantivo derivado de com- prometer –
ato de fazer uma promessa! Quando me comprometo , faço
uma promessa de algo, de realizar, de estar junto. Comprometer-se
é prometer ação. Quem promete fica
com uma dívida. A dívida será paga
com ações.
É
fundamental que antes de estarmos comprometidos, saibamos
como iremos realizar nossas promessas. Entender os objetivos
das ações prometidas, ter o conhecimento necessário
para fazer e, não estar apenas informado daquilo
que deve ser feito.
Outra
questão vital é confrontar o que iremos fazer
- pagar nossa dívida - com o nosso sistema de valores.
Se as ações, comportamentos e atitudes não
irão entrar em conflito com os nossos valores e crenças
(aquilo que acreditamos), então, estaremos comprometidos.
Chegamos
então a uma base para entender comprometimento. Quem
se compromete, está prometendo que irá realizar
algo, será necessário que ele saiba como e
porque fazer, e suas ações não poderão
estar em conflito com seus valores.
Talvez
seja uma explicação simples demais, mas para
aquele grupo de líderes apareceu um resultado. Compreendemos
que o Sr. X, por razões que não cabe aqui
explicar, embora soubesse o que fazer, não concordava
que as ações poderiam resultar em conhecimento
e principalmente, seus valores pessoais estavam em conflito
com os da organização. Algumas situações
foram amplamente discutidas e alguns conflitos pessoais
e organizacionais resolvidos. Iniciou-se um processo de
melhoria do relacionamento e de redefinição
dos valores da organização.
Vale
a pena comentar que o Sr. X é até hoje um
dos líderes valorizados daquela organização,
destaca-se por um ter um ótimo relacionamento com
todos os colegas, possui conhecimento técnico acima
da média e sempre apresentou resultados que agregaram
valor aos produtos.
Passei
a partir daquele dia, utilizar a palavra comprometimento
com muito mais cautela, com muito mais sabedoria. Aprendi
a não tirar conclusões precipitadas e preconceituosas.
Na
sua organização, no seu dia a dia, como você
utiliza a palavra comprometimento? Como as pessoas ao seu
redor parecem se comprometer? Você conhece alguém
tal como o Sr. X ? Qual é o tratamento dispensado
a ele?
Passe
algum tempo pensando nisso. Discuta com seus colegas, com
seus superiores, faça desse debate uma ponte para
um saudável relacionamento. Muitas surpresas irão
com certeza aparecer.
Comprometa-se
com seu desenvolvimento.
Armando
Ribeiro |