-
Mudanças, Borboletas e
Pudim de Leite (parte 1) |
Ao
longo destes últimos anos, tenho dedicado-me ao estudo
de atitudes e comportamentos que dificultam ou facilitam
os processos de mudanças dos indivíduos e
das organizações. Procuro entender as razões
que levam um indivíduo a ter comportamentos e atitudes
que o conduzem com facilidade às mudanças
desejadas. Pesquiso as razões ou as dificuldades
que muitas pessoas tem em aceitar as mudanças como
algo natural, previsível e necessário, e,
acham que não mudam.
Estamos
sempre mudando.
A
primeira constatação a que cheguei é
que as mudanças não ocorrem ao acaso, mas
através de um processo muito bem definido. Na maioria
das vezes não conseguimos enxergar, entender e sentir,
como é esse processo. Somos capazes de ver o início
– o antes, e o final – o depois. Somos cegos
para ver e entender o meio – o durante. Isso assusta
muitas pessoas.
Essa
falta das habilidades de entendimento, visão e sentimentos
tem gerado uma série de restrições
sobre as mudanças. São as nossas resistências.
Naturais e necessárias resistências às
mudanças.
Vamos tomar o exemplo da Borboleta. No início é
uma lagarta, normalmente de formato assustador. Rastejante
e predadora, devora tudo o que pode para conseguir forças
para se manter viva e produzir um casulo onde, durante um
determinado tempo, sofrerá a transformação:
de rastejante para alada. De devoradora para multiplicadora.
De feia e gosmenta para bela e admirada. Alguém ao
pisar sobre uma lagarta imagina que está matando
uma bela borboleta? Quando não entendemos o processo
de transformação não conseguimos entender
os porquês dos resultados.
As
Mudanças Borboleta são aquelas que temos de
perseguir. Elas são constituídas de três
fases bem distintas. A primeira é a fase do QUERER
MUDAR de forma profunda e positiva, ou seja,
sair da condição de lagarta e, tendo um foco
muito definido, imaginar-se como uma linda borboleta. A
fase seguinte é dedicada a aprender tudo que é
possível para SABER
COMO MUDAR, e assim como a lagarta, aprendemos
que é preciso ter metas
claras e precisas. Planejar cada passo,
rever conceitos, aprender, desaprender e reaprender. Não
adianta nessa fase deixar para amanhã ou para um
dia qualquer.
A
terceira e última fase é a da decisão
- DECIDIR MUDAR,
porque somos capazes e merecedores do prêmio que iremos
conquistar. Toda mudança é um prêmio.
Se assim não for ninguém mudará.
Depois
de terminado o processo de transformação passamos,
como as borboletas, a polinizar flores e nos preparar para
uma outra mudança pois aprendemos o processo e estamos
aptos a ensinar para outras pessoas O
QUE FAZER PARA MUDAR.
Tão
simples assim? Porque resistimos tanto às mudanças?
Quais as razões que nos levam a temer tanto um processo
de transformação? Entramos numa parte de muitas
especulações e altamente individuais. Não
há termos de comparação das minhas
resistências com a de qualquer outra pessoa no Planeta
Terra. Alguns por já terem obtido resultados não
desejáveis nas mudanças anteriores, outros
por comodismo ou conformismo. Cada um com seu grau particular
de resistência.
As resistências são a nossa forma de proteção
para o desconhecido. Resistir ao que nos fará mal
é perfeitamente natural. Resistir aquilo que irá
acontecer e que será bom para nós, é
anormal. Lembram-se do Hardy (oh dia, oh céus, oh
azar!)?
Existe
remédio para resistências às mudanças?
Onde posso comprar? É injetável, drágeas
ou supositórios? De quantas em quantas horas devo
tomar? Meu caso é grave? Quanto tempo de vida ainda
me resta? E assim passamos a fazer perguntas atropeladamente
como se perdidos num deserto, sem água e sem comida.
Primeiro é preciso calma.
O
segundo momento dessa maneira de ver as mudanças
é entender que vamos para o futuro queiramos ou não.
É no presente que começamos a construir um
futuro melhor. O passado é apenas a fonte de referências
e de aprendizados. Não repetir os mesmos erros do
passado, no aqui e no agora é sábio. Alguns
de nós sofremos muito no passado e estamos presos
a ele como se tivéssemos âncoras nos pés.
Razões para isso temos de sobra. Quando pensamos
no passado sempre temos razão. Pensando no futuro
essas razões desaparecem. Não mudar pelas
razões do passado não nos leva ao lugar que
desejamos, não nos torna mais felizes. Uma pergunta
que aprendi com um grande amigo é VOCÊ
QUER TER RAZÃO OU SER FELIZ? No passado
sempre teremos razão. No futuro o que queremos é
ser felizes.
O
segredo está em admitir que somos a causa de todos
os processos da vida pelos quais passamos. Aprender com
eles. Pesquisar o que fizemos de errado e de certo. O que
deixamos de fazer. O que deixamos que os outros fizessem
conosco. É a partir dessa reflexão que adquirimos
novas atitudes e comportamentos para ter o domínio
das mudanças pessoais. Passamos pouco a pouco a entender,
ter visão e sentir.
Nessa
hora alguns estarão perguntando e as mudanças
sobre as quais não temos nenhum controle? Como fazer?
Eu arrisco uma resposta: não faça nada. Não
temos controle mesmo. Deixe acontecer. Gosto de contar a
história real de um australiano. Bom pai, bom marido,
bom cidadão e aberto as mudanças da vida.
Metódico, gostava de almoçar com os amigos
sempre no mesmo restaurante da pequena cidade no interior
da Austrália onde vivia. Sempre na mesma mesa e na
mesma cadeira. Um belo dia há milhares de quilômetros
da Terra um meteorito sai de sua rota e vem em direção
ao nosso planeta. Na esmagadora maioria das vezes, pela
velocidade, pelo tamanho e pelo atrito com a atmosfera terrestre
99,99999999% desses meteoritos viram pó. Esse em
particular era um pouco maior, e em contato com a atmosfera
da terra não se dissolveu completamente e ficou um
pouco menor do que uma bolinha de gude (das pequenas) e
foi caindo. Imaginem quantos milhões de quilômetros
quadrados temos no nosso planeta? Desses milhões
de quilômetros é sabido que mais de 2/3 são
de água. Esse meteorito, do tamanho de uma bolinha
de gude, resolveu cair, exatamente na hora do almoço,
numa pequena cidade do interior da Austrália, furou
milimetricamente o telhado do restaurante, e caiu sobre
a cabeça do nosso herói, que morreu instantaneamente
com o impacto. Ninguém mais se feriu. Alguns nem
perceberam o que aconteceu. Na autópsia do nosso
herói foi colocada como causa mortis: impacto por
objeto esférico de origem desconhecida. Sabem qual
é a probabilidade de isso acontecer? Nem tentem imaginar!!!
Moral da história:
existem coisas que jamais iremos controlar, mudanças
que não dependem de nós; então deixe
acontecer; por que se preocupar?
Vejam
as pessoas que são felizes e que promovem mudanças.
Observem como elas fizeram para chegar aonde chegaram. Pesquisem
os sinais que aparecem à sua volta.
As
mudanças organizacionais começam a partir
das mudanças individuais. Em qualquer tipo de organização,
familiar, profissional, religiosa etc. As pessoas que mudam
formam equipes que tem o mesmo foco e objetivos claros,
usam o aprendizado individual e promovem transformações.
Tornam-se massa crítica. Fazem acontecer. Um indivíduo
apóia o outro e formam uma rede que sustenta as mudanças
da organização.
O
PUDIM DE LEITE do título? Nada tem a ver com nossa
história de hoje. Sou fã de PUDIM DE LEITE
e antes de sentar para escrever preparei uma fôrma,
misturei os ingredientes, coloquei para cozinhar. Neste
exato momento o “timer” do fogão avisou
que já está pronto. Sinto o cheiro daqui!
Estão servidos? Não existe mudança
igual a esta: depois de escrever, deliciar-se com um farto
pedaço de pudim de leite.
Experimentem!!!!
No
próximo texto abordarei as resistências às
mudanças e algumas dicas sobre como eliminá-las.
Quem
quiser a receita do PUDIM peça pelo e-mail que eu
forneço.
Armando
Ribeiro |