Era uma manhã bonita, sol nascendo devagar... no calendário marcava dia 02 de março de 1993 e começava naquele momento uma nova vida para mim. Há quase 2 anos aguardava aquele momento de voltar a trabalhar, tinha na época 37 anos, idade em que as mulheres não conseguem mais uma colocação, era para mim o meu início.

A empresa era de sociedade de meu pai e quando ele confirmou que ia realmente começar a trabalhar já foi dizendo “vamos ver se você dá para o negocio”. Posso dizer que esse foi meu primeiro desafio a transpor. O segmento que iniciava era totalmente masculino. Isso tanto na empresa quanto nos fornecedores que iria ter contato.

Tinha pela frente 40 funcionários e mais a multinacional americana, que eram dois imensos monstros que não sabia nem por onde começar. Meu primeiro local de trabalho foi o caixa da loja.... e passei por todos os setores possíveis, balcão, almoxarifado, expedição, cardex e até entregadora fui. Hoje entendo que não foi maldade do meu pai, as palavras dele para mim tem outro valor, “quem não conhece a fundo seu negocio , não sabe e não pode cobrar”.

Comecei a me relacionar com os funcionários tranqüilamente e aos poucos minha sala era local de tirarem suas duvidas tanto profissional como também particulares....
Com os fornecedores também não tive muitos problemas, acho que meu modo de falar, sempre com franqueza e dizendo que o que não soubesse iria perguntar até ficar tranqüila com os materiais... eles riam muito com a minha franqueza.

Bom até que chegou a primeira reunião que tive na multinacional. Lá fomos eu e meu pai, era ele que sempre ia a essas reuniões e como a área comercial seria de minha responsabilidade disse que iria ter o “primeiro contato com os leões”.

A reunião foi tranqüila e como tenho por habito redigir os acordos de uma reunião, seria uma ata particular, marquei as series de mudanças que sugeriram e as que eu também fiz.

Passados uns 30 dias os acordos estavam entrando na prática, notei que um item estava errado, reclamei e eles disseram que era engano meu que não haviam combinado a entrega do material como eu dizia que tinha que ser.

Munida de minhas anotações, marquei uma reunião com o diretor do setor, com o marketing, departamento de vendas, ou seja, com todos que estavam na reunião e mais alguns parceiros que também chamei.

Resumo: tiveram que editar uma tabela nova para todo o Brasil, nem imaginam a cara de todos os homens, pois eu era a única mulher na reunião...
Depois desse episodio em cada reunião, quando chego, logo perguntam se eu trouxe cadernos. E assim meu caminhar foi crescendo, aprendendo, às vezes brigando, mas foi indo...
Houve datas que para mim serão eternos gestos inesquecíveis tanto de alegrias como de tristezas, sapos que tive que engoli, mas olhando para trás, posso dizer que valeu a pena cada dia vivido.

Vi nesses espaços de tempo a economia virar de cabeça para o ar e com certeza me deixou agoniada, mas foi também o momento de meu maior crescimento. Entendi que é realmente nos momentos mais caóticos que temos as energias, a esperança e a certeza que podemos vencer... e posso dizer que venci.

Hoje já passados 12 anos, estou com 49 anos, me sinto mais jovem que naquele dia 2 de março de 1993. Sou uma profissional respeitada por todos os homens que me relaciono e digo com franqueza: valeu a pena!!!!

Maria Inês B. Teixeira
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